16 de mar. de 2011

Faça a sua parte

Por Francis Chan

Estou o tempo todo procurando me manter em sintonia com o Espírito Santo, mas é uma luta constante. Ser submisso e abri mão de tudo é uma atitude radical e assustadora. No entanto, quando penso com mais profundidade a respeito disso, percebo que caminhar segundo a minha sabedoria, e não de acordo com a orientação do Espírito, é ainda mais assustador. Embora eu lute, sei que, em última análise, nada mais quero além de viver em rendição e entrega total ao Espírito em todos os momentos que me restarem na terra.

O Espírito pode me levar a fazer um sacrifício financeiro total, ou então me conduzir a uma atitude de humildade em relação às opniões das pessoas que me cercam. O Espírito pode pedir que eu mude para outra cidade, outro estado ou mesmo outro país. O Espírito pode me orientar a permanecer onde estou e utilizar meu tempo de maneiras bem diferentes do que faço agora. Ele poderia me levar a fazer coisas como o que está narrado em 2 Samuel 6, em que Davi dançou (o texto diz "vestindo o colete sacerdotal de linho", o equivalente às roupas de baixo dos sacerdotes) diante do Senhor "com todas as suas forças" (v. 15). Outras pessoas ficaram envergonhadas daquela demonstração de adoração a Deus indigna de um rei, mas Davi disse que não se importava, e que ele se rebaixaria muito mais diante do Senhor. Ele só se importava em adorar a Deus.

Quando leio essa história, parte de mim diz: "sim, quero viver como Davi. Quero me esquecer do que as outras pessoas pensam e adorar meu Rei com todas as minhas forças". A outra parte diz: "Tudo bem, mas, pensando em termos práticos, o que foi aquilo?". Como posso andar em tal intimidade com o Espírito a ponto de minha reação mais autêntica à sua ação ser dançar sem preocupação, sem ligar se as pessoas à minha volta vão achar aquilo tudo inapropriado? E será que não devo mesmo me importar com o que os outros pensam a meu respeito?

Acredito que o ponto crucial dessa questão é entender que ser cheio do Espírito Santo não é um ato instantâneo. Quando lemos, em Gálatas, sobre o Espírito e a carne, vemos que andar no Espírito implica um relacionamento contínuo. Ser cheio do Espírito não se limita ao dia em que conhecemos Cristo. Em vez disso, ao longo das Escrituras lemos a respeito de um relacionamento que nos convoca a uma busca ativa pelo Espírito Santo.

Os cristãos não podem jamais perder o Espírito, mas precisam buscar ser cheios dele o tempo todo. A santificação é um processo no qual nos engajamos a vida inteira. O texto de 2 Coríntios 3:18 afirma: "E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem o Senhor, que é Espírito". (cf. tb. 2 Ts 3:13 e Rm 15:16)

Imagine que eu compre uma esteira ergométrica para perder algum peso. Três meses depois, levo de volta à loja e reclamo ao balconista que não funcionou - não perdi nenhum quilinho.
Ele me pergunta:
- Qual foi o problema? O aparelho não funcionou direito?
E eu respondo:
- Não sei se funciona, nunca corri nele. Só sei que não perdi peso algum, por isso não quero mais saber dessa esteira!

Pode parecer um exemplo bobo, mas modifique os detalhes e, de repente, a coisa parecerá bastante familiar: "Tenho orado para que o Espírito Santo me liberte da minha lascívia e, mas continuo viciado em pornografia". Ou: "Orei durante anos para ser capaz de perdoar meu pai, mas ianda tenho raiva e ressentimento, trinta anos depois". Ou ainda: "Oro há muito anos para me livrar da glutonaria, mas apesar da oração, dos grupós de apoio espiritual e da dieta, continuo sendo uma pessoa que come de maneira compulsiva e nada saudável". Escolha o pecado que mais incomoda você e, de repente, a ilustração da esteira ergométrica passa a não ser tão boba assim. Na verdade, parece que essas orações por libertação daquele pecado insistente não "funcionam" muito bem, da mesma maneira que a esteira não me ajudou a perder peso.

Receber libertação e cura como resposta à oração não costuma ser algo feito para você, uma situação na qual não passa de um participante ativo. Às vezes, Deus opera dessa maneira; ele simplesmente cura ou libertauma pessoa por completo. Com certeza, ele é capaz de fazer isso. No entanto, por experiência própria, ele geralmente nos pede para desempenhar um papel ativo na jornada rumo à plenitude. Ele não precisa de nossa ajuda, mas nos convida a participar. Com frequência, essa jornada em direção à liberdade leva tempo; às vezes, muito tempo mesmo. E exige perseverança. Exige participação nossa. Temos de subir na esteira ergométrica e correr - ficar apenas olhando a máquina não ajuda muito. (cf. tb. Rm 12:11 e 1 Ts 5:19)

Você já se viu preso em um círculo de pecado por muito tempo? Já desistiu do Espírito Santo e se resignou ao pensamento de que ele não "opera ou não tem poder para promover a libertação - não pelo menos, em sua vida? Se essa descrição serve para você, então talvez ainda não tenha assimilado esta realidade: caminhar com o Espírito requer ação de sua parte.

O fato é que, se você estivesse em sintonia com o Espírito Santo, se ouvisse e obedecesse, não pecaria. (cf. Gl 5:16). A partir de determinado momento, é possível viver no poder do Espírito Santo e do pecado ao mesmo tempo. O pecado faz oposição total a tudo o que é do Espírito. Eles são mutualmente excludentes e totalmente contrários um ao outro. Isso não significa que, se você peca, não tem o Espírito Santo ou não é um seguidor de Cristo. Não significa que, quando peca, está deixando de ser submisso à autoridade e à presença do Espírito Santo em sua vida. Ele continua presente, mas o mais provável é que você esteja reprimindo ou ignorando seu conselho.

A maior esperança que temos nisso tudo é que, mesmo quando ignoramos o Espírito e pecamos, ele nos convence desse pecado. Embora pequenos de vez em quando, não somos governados nem escrevizados pelo pecado como éramos antes. Erradicamos a hegemonia do pecado sobre a nossa vida. Quando estamos em sintonia com o Espírito, ele nos lembra dessa realidade libertadora.

Fica óbvio quando alguém não anda em Espírito (pelo menos, não de modo consistente). O que você vê e sente de uma pessoa assim é ira, egoísmo, contenda, amargura e inveja. No entanto, quando uma pessoa se submete ao Espírito Santo de forma habitual e ativa, ela gera o fruto do Espírito. O Espírito Santo jamais conduzirá você (nem pode fazê-lo) ao pecado. Se ele habita de fato em sua vida, então só pecará quando não der ouvidos à orientação do Espírito Santo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário