4 de abr. de 2010

Abandonado


Por Max Lucado

Abandono. Que palavra assustadora.
Nos limites da pequena cidade há uma casa muito velha. Ervas daninhas mais altas que a entrada. As venezianas das janelas e uma porta de tela batendo com o vento. No portão tem um aviso: abandonada. Ninguém quer esse lugar. Nem mesmo os pobres e os desesperados a desejam.
Uma assistente social aparece à porta de um orfanato. Na sua grande mão está a mãozinha suja de uma menina de seis anos. Enquanto os adultos conversam, os olhos arregalados da criança examinam o escritório do diretor. Ela ouve a assistente sussurrar: “Abandonada. Ela foi abandonada”.
Uma mulher idosa num asilo senta-se sozinha na sua cadeira de balanço no Natal. Nenhum cartão, nenhum telefonema, nenhuma canção.
Uma jovem esposa descobre e-mails românticos enviados pelo seu marido a outra mulher.
Depois de trinta anos na fábrica, um trabalhador encontra um aviso de demissão preso no seu armário.
Abandonada pela família.
Abandonada pelo esposo.
Abandonado pelo emprego.
Entretanto, nada se compara a ser abandonado por Deus.

E, desde a hora sexta (ao meio dia), houve trevas sobre a terra, até à hora nona. E, perto da hora nona (três horas da tarde), exclamou Jesus em alta voz, dizendo: “Eli, Eli, lemá sabactâni”, isto é, “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. (Mt 27:45,46)

Quando Jesus grita essas palavras, Ele já está pendurado na cruz há seis horas. Aproximadamente às nove daquela manhã, Ele já se encaminhava , tropeçando, para o martírio no lugar da Caveira (Mt 27:33). [...] Quando os romanos ergueram a cruz , involuntariamente colocaram Cristo na posição em que Ele veio para morrer – Entre os homens e Deus.
Ruídos se mesclam na colina: fariseus zombando, espadas ressoando e homens moribundos gemendo. Jesus raramente fala. Quando Ele o faz, é como se diamantes brilhassem num fundo de veludo. Ele dá perdão aos seus assassinos e um filho à sua mãe. Ele atende o pedido de um ladrão e pede água a um soldado.
Então, ao meio-dia, a escuridão cai como uma cortina: “E desde a hora sexta , houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona” (Mt 27:45).
Esta foi uma escuridão sobrenatural . Não um agrupamento casual de núvens ou um breve eclipse do sol. Foi um cobertor de escuridão durante três horas. Os comerciantes de Jerusalém acenderam velas. Os soldados acenderam tochas Os pais se preocuparam. As pessoas de todas as partes faziam perguntas. De onde veio essa noite em pleno dia? De um lugar distante como o Egito, o historiador Dionísio percebeu o céu escuro e escreveu:” Ou o Deus da natureza está sofrendo, ou a máquina do mundo está caindo em ruínas”.
Cláro que o céu está escuro; estão assassinando a Luz do mundo.
O universo chora. Deus disse que seria assim. “E sucederá que, naquele dia...farei que o sol se ponha ao meio-dia e a terra se entenebreça em dia de luz... e farei que isso seja como luto de filho único e o seu fim como dia de amarguras” (Am 8:9,10).
[...]
Cristo ergue a sua cabeça pesada e os seus olhos em direção aos céus e gasta a sua energia final inserindo nas estrelas um grito: “Eli, Eli, lemá sabactâni”, que significa “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27:46).
Poderíamos perguntar a mesma coisa. Por que Ele? Porque abandonar o seu Filho? Abandone os assassinos. Deixe os malfeitores. Dê as costas aos perversos e aos que trazem dor. Abandone-os, não Ele. Por que abandonar a única alma sem pecado da terra?
Ah, essa palavra terrível. Abandonar. A casa que ninguém quer. A criança que ninguém reivindica. A mãe de que ninguém se lembra. O Salvador que ninguém entende. Ele perfura a escuridão com a pergunta mais solitária do céu: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
[...]
Espere um pouco. Davi não nos diz: “Nunca vi desamparado o justo” (Sl 37:25)? Será que Davi não falou corretamente? Será que Jesus deu algum passo errado? Nada disso. Nesta hora, Jesus é tudo menos justo. Contudo, os erros pelos quais estava sofrendo não eram dEle. Cristo levou “em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudessemos viver para a justiça” (1 Pe 2:24).
Cristo levou em seu corpo os nossos pecados...
Posso ser mais específico um momento? Posso falar sobre o pecado? Será que devo recordar a mim e a você que o nosso passado está enfeitado com explosões de ira, manchado com noites de paixões profanas e contaminado com incansável cobiça?
Imagine que o seu passado se tornasse público? Suponha que você tivesse de ficar num plalco enquanto um filme de todos os segundos secretos e egoístas da sua vida fossem projetados numa tela atrás de você?
Você não rastejaria para debaixo do tapete? Não gritaria para que os céus tivessem miseriórdia? E você não sentiria uma fração... apenas uma fração do que Cristo sentiu na cruz? A gélida insatisfação de um Deus que detesta o pecado?
Passei por algo parecido com o meu próprio pai, quando tinha dezesseis anos. Éramos próximos, grandes amigos. Nunca temi a sua violência nem a sua ausência. Quase no topo da minha lista dos meus dias difíceis está o dia em que o decepcionei.
Papai tinha uma regra inflexível. Nada de álcool. Ele tinha visto o álcool desmantelar a vida de muitos dos seus irmãos. Se mantivesse uma postura firme contra o álcool, isso não aconteceria com a sua família. Estávamos proibidos de ingerir bebidas alcoólicas.
E o que você acha? Decidi que era mais esperto que ele. Uma festa de fim de semana deixou-me cambaleando quando fui ao banheiro, à meia-noite, para vomitar uma barriga cheia de cerveja. Papai apareceu na porta – tão zangado -, atirou-me um pano e se retirou.
Na manhã seguinte acordei com dor de cabeça e a horrível certeza de que havia magoado o coração do meu pai. Fui à cozinha e o vi sentado à mesa. [...] Ele olhou-me, os olhos arregalados de dor, os lábios curvados em descrença. Mais do que em qualquer outra ocasião da minha vida, senti a insatisfação de um pai que me amava.
Senti-me arruinado. Como poderia sobreviver ao desgosto do meu pai?
Jesus, suportando um milhão de vezes mais, talvez tenha sentido o mesmo.
Cristo levou em seu corpo os nossos pecados...
Você está vendo Cristo na cruz? Alí está um fofoqueiro. Está vendo Jesus? Um fraudador. Um mentiroso. Um beato. Você está vendo o carpinteiro crucificado? Ele espanca mulheres. É viciado em pornografia e é um assassino. Você está vendo o menino de Belém? Pode chamá-lo por outros nomes – Adolf Hitler, Osama bin Ladan e Jeffrey Dahmer.
Espere um pouco. Não misture Cristo com esses malfeitores. Não coloque o nome dEle na mesma frase que os deles!
Eu não fiz isso. Ele o fez. Na verdade, Jesus fez mais do que isso. Mais do que colocar o seu nome na mesma frase, Ele se colocou no lugar deles. E também no seu lugar, prezado leitor.
Com as mãos abertas e pregadas, Cristo convidou a Deus: “Treate-me como você os trataria!” E Deus o fez. Num ato que partiu o coração do Pai. [...]
E o céu deu à terra o seu melhor presente. O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Por que Cristo gritou tais palavras?
Para que você nunca tenha de fazê-lo.

Um comentário:

  1. belo texto... max escreve de uma maneira única =p incrível :D boa iniciativa em por aqui =)) beijossss salamillee..

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